Horizontina,
nove de fevereiro de 2038.
Amanhã, já faria um mês
desde que o bunker virou a prisão, ou melhor, o lar da família Costta. O tempo
custou para passar nesse ambiente. O tempo era baseado em fazer listas do que se
precisava procurar quando todos saíssem daqui. Embora JH tenha pensando em quase tudo para a
sobrevivência da família, eles não sobreviveriam muito tempo mais do que um mês
sem renovar os seus suprimentos.
A alimentação embora,
não fosse de toda ruim, enjoava fácil. Quase tudo em pó e em quantidade
estabelecida por JH, para que a comida durasse um pouco mais de um mês. As
atividades dentro do pequeno lar, além de fazer listas e se alimentarem eram os
jogos de tabuleiro e cartas. Descobriram logo que no baralho faltavam cartas,
para a frustração geral.
Beatriz dedicou nesse
quase um mês a verificar a temperatura exterior e as imagens na câmera
exterior. Fazia cerca de dez dias que a temperatura havia se estabilizado em
10ºC, uma temperatura fora dos padrões para essa época do ano, mas totalmente
justificada pelas alterações do clima global. As imagens da câmera mostravam um
ambiente escuro e silencioso, visto que grande quantidade de fumaça e fuligem cobria
o nosso planeta.
Fernando aprendera a utilizar
o Contador Geiger e junto com seu pai elaboraram planos sobre o que deveria ser
feito para o dia onze. Faltavam dois dias para abrirem as portas pela primeira
vez desde que ela fora fechada há quase um mês. O Primeiro passo era entrarem
em sua verdadeira casa e verificarem o grau de radiação que contaminou o
ambiente. Devido a casa ter sido totalmente fechada e protegida por JH, outra
preocupação que foi vista por seus filhos como ansiedade antes disso tudo
acontecer, esperavam que ela estivesse pouco contaminada.
Amélia
nesse um mês se recuperou bem do choque inicial e estava animando as noites com
histórias e canções. Ela esperava voltar para casa logo que abrissem as portas
do bunker. Ela aprendeu sozinha a verificar os filtros de ar e a testar a
qualidade da água que se retirava do solo. Mesmo sabendo que a sua vida e a de
seus filhos não seriam normais mesmo saindo do bunker, falando como mãe falava
das suas esperanças sobre o futuro, todos esqueciam um pouco os momentos de
dores e desesperanças.
Horizontina,
onze de fevereiro de 2038.
O dia era hoje. O
momento era agora. A porta era aberta rapidamente, enquanto Fernando e João
Henrique saiam do bunker. Antes da saída foi decidido que primeiramente os dois
iriam verificar se a casa estava em ordem e se o nível de radiação estava num
nível tolerável, para que depois Amélia e Beatriz saíssem também.
Mas antes disso
Fernando e JH vestiram roupas de inverno, mascaras cirúrgicas, óculos escuros e
protetor solar. Embora o tempo estivesse encoberto, as explosões nucleares
danificaram seriamente a camada de ozônio e a radiação solar não perdoaria
qualquer descuido.
Com a porta aberta, os
dois rapidamente saíram enquanto Beatriz fechava novamente a pesada porta. O
vento uivava, e o som das respirações do pai e filho eram os únicos sons distinguível além da ventania. O
cenário que JH esperava encontrar era sinais evidentes de
contaminação no ar, para ele o Contador Geiger estaria fazendo sons altos e o
ponteiro estaria agitado. Para sua surpresa, a radiação no ambiente estava em níveis aceitáveis para
as pessoas. João quase esboçou um sorriso, mas as preocupações maiores ainda estavam no futuro próximo.
O próximo passo seria verificar a residência.
Enquanto
uma nova realidade era construída a partir de seus olhos, Fernando olhava para
o horizonte. Tudo estava calmo, calmo até demais.
350
km acima da superfície, Estação Espacial da L.E.
Comandante Zukhov
observava o planeta de sua cabine. O radio e o canal de chamadas da Agencia
Espacial Eurasiana que costumava tocar todos os dias, estava mudo. Nenhuma
chamada para verificar um componente da estação ou para fazer um experimento. Os
que talvez sobreviveram em solo deveriam ter se esquecido dos que ficaram acima
da superfície.
Da Lua, uma ou outra
chamada Zukhov interceptava e as notícias não eram nada boas. Por uma das
chamadas soube que a base lunar da Comunidade Sul-Americana havia sido
destruída a cerca de duas semanas. Tumultos generalizados ocorreram nas demais
bases, e a estação lunar dos Estados Unidos encontrava-se sob lei marcial.
Zukhov estivera
tentando contatar qualquer agência espacial para pedir conselhos e informações, mas tudo
estava quieto. O planeta estava quase todo coberto por nuvens negras, quase nenhum contato
visual dos continentes.
-Moscou, Paris,
Washington e Pequim em silencio. Nenhum sinal de qualquer tipo que nossas
antenas pudessem captar da Terra. Estamos sozinhos, devemos tomar as nossas
próprias decisões...-
Na Estação da Liga
Eurasiana, além de Zukhov, havia mais quatro pessoas. Como de costume nos
cosmonautas da Liga, toda nova equipe que viria substituir a anterior era
composta em cinco, sendo sempre uma russa e as demais sorteadas entre os 11 países
membros.
Nesse um mês em
isolamento, dois cosmonautas, o polonês e o georgiano cometeram suicídio,
sobrando além de Zukhov, um ucraniano e o lituano. As coisas não iam bem na
estação, a ração dos cosmonautas estava chegando ao fim e o contato com a base
lunar eurasiana estava suspenso por falhas técnicas.
Tudo estava indo como
Zukhov infelizmente previra se não conseguissem contato algum na Terra ou com a
base eurasiana, teria de tentar sair da estação. O problema era como sair e
sobreviver sem nenhuma ajuda vinda de baixo.
Olhando
novamente para a janela, cantava baixinho uma antiga musica de sua terra natal.
Skvoz' grozy siyalo nam solntse svobody,
I Lenin veliky nam put' ozaril,
Na pravoye delo on podnyal
narody,
Na trud i na podvigi nas vdokhnovil!
Esta terra nesse momento deveria
estar silenciosa. Sempre quis ser cosmonauta, ver o mundo daqui de cima, mas
agora preferia não ter sido chamado para a missão. Tinha uma alternativa remota
e ousada de sobrevivência, mas essa implicaria em abandonar seus companheiros
de base e deixa-los morrerem esquecidos por Deus e do mundo.
( -> Capítulo 2: A década dos Cavaleiros do Apocalipse -Parte Três)
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