Horizontina,
oito de abril de 2048.
-Você dormiu por quase
três dias querido... -Disse uma voz em sotaque portunhol.
A voz vinha a poucos
metros de onde Fernando estava deitado. Conforme seus olhos abriram e se acostumavam
com a claridade vinda de diversas velas espalhadas pelo cômodo ele via uma
mulher, mas não era uma mulher qualquer. Era Paloma. Paloma era uma argentina
que no terceiro ano depois do apocalipse fugira com dezenas de outros pelo rio
Uruguai para o Brasil.
Naquele momento a
região onde Paloma morava com a família, vivia uma seca terrível e para tentar
sobreviver, cruzaram o rio onde em muitos pontos naqueles dias enormes trechos
eram transitáveis caminhando. Em vários pontos da fronteira, houve pequenas escaramuças
entre brasileiros e argentinos. Paloma acabou de perdendo do grupo e parou em
Horizontina quase morta de desidratação. Fora acolhida por João Henrique e logo
um romance entre ela e Fernando surgira.
Paloma vestia uma camisola
no qual ela usava para dormir. Seus cabelo e olhos castanhos eram o que mais atraiam
Fernando. Da janela ela observava a chuva que calmamente caia na cidade.
Inúmeros baldes e panelas eram visíveis nas ruas e sacadas para guardar água.
Fernando tentou se levantar
da cama, mas ao tentar apoiar uma mão uma dor vinda das costelas o fez afundar
na cama novamente. Olhou para seu corpo, usava apenas uma calça de abrigo, em
vez de camiseta em seu dorso uma faixa apertada de gaze fazia voltas em seu
corpo.
Um espelho que ficava
preso na parede ao lado da cama refletia o seu corpo. Seu rosto com barba disfarçava
parte de uma grande cicatriz que começava perto de sua orelha esquerda e descia
até o queixo. Algumas marcas roxas ainda apareciam no seu rosto e braços.
Paloma deu um suave beijo
na boca de Fernando e saiu pela porta do quarto. Ela disse algo de ir à cocina trazer uma sopa para ele, mas ele
não prestou atenção na fala dela e sim nas suas dores. Deve ter quebrado
algumas costelas sim, mas o que importava é que estava em casa, olhando em
direção da porta aberta do quarto, o cheiro de sopa invadia ao ambiente. E do
lado da porta, num prego estava pendurado o seu relógio de bolso.
Tudo continuava em pé.
Sua amada estava ao seu lado, seu pai e sua irmã estavam bem de saúde. Logo que
pudesse sair de casa ia voltar à prefeitura, onde trabalhava como um faz tudo para
o prefeito Humberto Souza. –Devo ter
muito papel para organizar e catalogar para o prefeito...-, enquanto pensava em tudo que tinha que fazer, suas
costelas doeram novamente.
Humberto Souza era nos
dias que antecederam o apocalipse, um dos vereadores da cidade, além de formado
em engenharia civil. Ele embora no cargo de prefeito há muitos anos, ninguém
reclama de sua liderança. Ele planejou os muros da cidade numa época de caos e
barbárie generalizada, era em suma o herói da cidade.
Ele fora aclamado pela
população num momento, onde a cidade havia sido parcialmente saqueada por um
grupo de desertores militares, que levaram grande parte das reservas
alimentícias e combustível. Depois da construção da muralha e do fim do grande
inverno que ceifou muitas vidas, a cidade precisava de uma continuidade administrativa.
Fernando se ajeitou um
pouco na cama. O cheiro da sopa havia invadido de vez o ambiente. Quase três dias
sem comer. Fazia anos que havia ficando tantos dias sem comer, fora no ano do
grande inverno, onde a comida ficou escassa. Fernando não gostava de lembrar-se
desses dias.
Fernando tomou duas
tigelas de sopa, e antes que Paloma retornasse ao quarto para conversar, ele havia
caído no sono.
( -> Capítulo 4: Horizontina - Parte 3- )
( -> Capítulo 4: Horizontina - Parte 3- )
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