quinta-feira, 21 de maio de 2015

Capítulo 4: Horizontina -Parte 2-

Horizontina, oito de abril de 2048.

-Você dormiu por quase três dias querido... -Disse uma voz em sotaque portunhol.

A voz vinha a poucos metros de onde Fernando estava deitado. Conforme seus olhos abriram e se acostumavam com a claridade vinda de diversas velas espalhadas pelo cômodo ele via uma mulher, mas não era uma mulher qualquer. Era Paloma. Paloma era uma argentina que no terceiro ano depois do apocalipse fugira com dezenas de outros pelo rio Uruguai para o Brasil.

Naquele momento a região onde Paloma morava com a família, vivia uma seca terrível e para tentar sobreviver, cruzaram o rio onde em muitos pontos naqueles dias enormes trechos eram transitáveis caminhando. Em vários pontos da fronteira, houve pequenas escaramuças entre brasileiros e argentinos. Paloma acabou de perdendo do grupo e parou em Horizontina quase morta de desidratação. Fora acolhida por João Henrique e logo um romance entre ela e Fernando surgira.

Paloma vestia uma camisola no qual ela usava para dormir. Seus cabelo e olhos castanhos eram o que mais atraiam Fernando. Da janela ela observava a chuva que calmamente caia na cidade. Inúmeros baldes e panelas eram visíveis nas ruas e sacadas para guardar água.

Fernando tentou se levantar da cama, mas ao tentar apoiar uma mão uma dor vinda das costelas o fez afundar na cama novamente. Olhou para seu corpo, usava apenas uma calça de abrigo, em vez de camiseta em seu dorso uma faixa apertada de gaze fazia voltas em seu corpo.

Um espelho que ficava preso na parede ao lado da cama refletia o seu corpo. Seu rosto com barba disfarçava parte de uma grande cicatriz que começava perto de sua orelha esquerda e descia até o queixo. Algumas marcas roxas ainda apareciam no seu rosto e braços.

Paloma deu um suave beijo na boca de Fernando e saiu pela porta do quarto. Ela disse algo de ir à cocina trazer uma sopa para ele, mas ele não prestou atenção na fala dela e sim nas suas dores. Deve ter quebrado algumas costelas sim, mas o que importava é que estava em casa, olhando em direção da porta aberta do quarto, o cheiro de sopa invadia ao ambiente. E do lado da porta, num prego estava pendurado o seu relógio de bolso.

Tudo continuava em pé. Sua amada estava ao seu lado, seu pai e sua irmã estavam bem de saúde. Logo que pudesse sair de casa ia voltar à prefeitura, onde trabalhava como um faz tudo para o prefeito Humberto Souza. –Devo ter muito papel para organizar e catalogar para o prefeito...-, enquanto pensava em tudo que tinha que fazer, suas costelas doeram novamente.

Humberto Souza era nos dias que antecederam o apocalipse, um dos vereadores da cidade, além de formado em engenharia civil. Ele embora no cargo de prefeito há muitos anos, ninguém reclama de sua liderança. Ele planejou os muros da cidade numa época de caos e barbárie generalizada, era em suma o herói da cidade.

Ele fora aclamado pela população num momento, onde a cidade havia sido parcialmente saqueada por um grupo de desertores militares, que levaram grande parte das reservas alimentícias e combustível. Depois da construção da muralha e do fim do grande inverno que ceifou muitas vidas, a cidade precisava de uma continuidade administrativa.

Fernando se ajeitou um pouco na cama. O cheiro da sopa havia invadido de vez o ambiente. Quase três dias sem comer. Fazia anos que havia ficando tantos dias sem comer, fora no ano do grande inverno, onde a comida ficou escassa. Fernando não gostava de lembrar-se desses dias.

Fernando tomou duas tigelas de sopa, e antes que Paloma retornasse ao quarto para conversar, ele havia caído no sono.

-> Capítulo 4: Horizontina - Parte 3- )

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