Horizontina,
dezenove de abril de 2048
Esse dia foi mais um daqueles
raros dias atípicos na história dos moradores de Horizontina desde o começo de
tudo. Depois de dez anos de abandono do governo estadual e federal, uma comitiva
do Governo Provisório Gaúcho estava chegando. Essa comitiva estivera rodando o
Estado em busca de sobreviventes e de comunidades para dar a sensação de unidade
e de esperança entre o povo gaúcho.
O vice-governador do
Estado, Arthur Biancchinni, estava fora da cidade de Porto Alegre quando tudo aconteceu.
Nos primeiros dias de caos, a pouca comunicação com o Governo Federal tornou
tudo pior. Quando tudo caia os Estados se tornaram responsáveis pelas funções
que anteriormente cabiam aos órgãos federais. Porto Alegre fora atingida por um
dispositivo nuclear e com o governador morto, o Estado estava entregue ao caos.
Biancchinni fora
encontrado numa pequena cidade próxima a Porto Alegre por um regimento do
exercito que estava estacionado próximo a Sapiranga. De Sapiranga, o exército,
junto com funcionários públicos e outros populares seguiram a pé, descendo o
Rio Grande do Sul, chegando até a cidade de Piratini.
Piratini em tempos antigos
fora a capital dos gaúchos durante a Revolução Farroupilha. A escolha não
poderia ter sido melhor nesses tempos, representava uma nova oportunidade, um
recomeço. Arthur Biancchinni foi empossado em Piratini como Governador de todo
o Rio Grande do Sul por tempo indeterminado.
Antes de chegar a Horizontina,
o regimento saindo de Carazinho passou por outras comunidades que sobreviveram
e resistiram nesses dez anos. Três de Maio recebeu as tropas um dia antes,
reconhecendo Biancchinni líder legítimo do Estado e o Governo Provisório Gaúcho
como unidade política sucessora do antigo Brasil e do Rio Grande do Sul.
Era logo após o meio dia,
trombetas tocavam fora dos portões da cidade. Toda a população da cidade esperava
a entrada do regimento. Bandeiras coloridas estavam espalhadas pelas ruas. O
portão que cortava a cidade em direção da avenida principal foi aberta. Dois cavalarianos
entraram portando cada um uma bandeira, a bandeira era familiar para qualquer
um que já tinha visto alguma vez a bandeira do Estado do Rio Grande do Sul, mas
esta somente tinha as cores tradicionais, verde, vermelho e amarelo, sem o
brasão do Estado.
Enquanto a população batia
palmas enquanto os cavalarianos entravam pelo portão, o prefeito e seus
conselheiros esperavam no meio da rua a cerca de 200 metros do portão a
delegação. Eram cerca de 25 pessoas montadas a cavalo, vestido uniformes militares
e portando cada um um longo sabre e armas de fogo. Logo após esses militares,
uma carroça guarnecida por mais quatro soldados entraram nos portões. Esses quatros
vestiam igualmente uniforme militar, ligeiramente mais escuro e portavam armas
de grosso calibre.
As pessoas atiravam
flores e papel picado nos soldados, enquanto palmas e gritos eram ouvidos. No
meio dos militares, uma única pessoa se diferenciava entre os uniformes e os
quepes militares. Um senhor de cerca de 50 anos, usando trajes formais e usando
um chapéu fedora. Uma militar que estava do lado do senhor, desceu de seu cavalo
e ajudou o senhor a descer do seu cavalo.
Enquanto os soldados
seguravam as rédeas de seus cavalos, o senhor aproximou-se em direção do
prefeito. Humberto usava um traje formal que parecia que pouco fora usado durante
toda a sua vida como prefeito. Usava por cima do terno preto uma faixa branca,
seu bigode estilo morsa que era sua marca a muitos anos, havia sido aparado por
sua esposa.
Os policiais de
Horizontina estavam no alto de algumas construções, vigiando o local, juntamente
com os vigilantes da muralha que obervavam tudo. Carlos estava com sua câmera
fotográfica pronta para registrar o momento histórico. Um aperto de mãos e troca
de sorrisos.
O primeiro a falar foi
o prefeito:
- Embaixador Lopes eu
presumo. –
- Meus cumprimentos pela
calorosa boas vindas. É muito bom saber que existem povoados bem estabelecidos
perto da fronteira. Até algum tempo atrás achávamos que toda essa região
fronteiriça tivesse sido arrasada pelas imigrações. -
Tirando o seu chapéu, o
senhor olhou pelas fachadas bem preservadas dos prédios localizados dentro da
muralha. A população eufórica esperava algumas palavras que com certeza deveriam
ser ditas mais tarde. Todos esperavam desde o começo dos problemas uma solução,
um recomeço, uma esperança.
-Prefeito, me chame
somente de Roberto. A palavra embaixador é muito inapropriada para mim. Embora
esse seja meu cargo dentro das funções governativas, se usa, ou melhor, usava a
palavras embaixador para com nações estrangeiras. Nós não somos invasores ou
estrangeiros, somo todos gaúchos acima de qualquer divisão que o caos tenha criado.
As pessoas que vieram para
ver a chegada daqueles militares de Piratini começavam a se dispersar e retornando
nos seus afazeres cotidianos. Ao longe Paloma segurava um cesto vazio, onde anteriormente
estava cheio de papéis picados. Segurando o cesto com uma mão, acenava ao longe
para Fernando. Fernando observava sua amada. Seus longos cabelos ruivos estavam
suavemente balançando conforme o vento, a única coisa que permanecia imóvel era
um pequeno girassol que ela havia colocado em seu cabelo.
Enquanto o prefeito e o
embaixador iam à frente conversando, os conselheiros e alguns militares acompanhavam
o cortejo até a prefeitura onde inicialmente ocorreriam algumas conversas mais
formais para que depois o grupo de visitantes conhecesse a cidade e os seus campos
produtivos.
Na frente da prefeitura,
o padre Juarez e JH esperava pela chegada da comitiva. Nos dias que antecederam
a visita da delegação, a hospedaria não aceitara novos hóspedes. Tudo tinha que
estar perfeito para a chegada dos visitantes. Uma exceção nos dias que o pessoal
de Piratini estivesse por aqui, carne vermelha voltou ao cardápio e a imaginação
de todos para degustar de um churrasco a moda antiga.
João Henrique trabalhou duro nos últimos dias.
Contou com a ajuda do seu velho amigo Juarez. Embora o padre tivesse seus fieis
para aconselhar e a paróquia para cuidar, sempre se dispôs a ajudar a todos. Juarez
vestia sua batina preta, acompanhando no pescoço um escapulário e uma cruz.
Enquanto alguns soldados
se posicionavam fora da prefeitura, O prefeito e o embaixador, acompanhado por
Fernando e uma soldada de Piratini subiam as escadas indo em direção a sala do
prefeito. Lá dentro, o futuro da cidade iria ser decidido.
(Capítulo 6: Operação Pindorama -Parte 1-)
(Capítulo 6: Operação Pindorama -Parte 1-)
Nenhum comentário:
Postar um comentário