quarta-feira, 1 de julho de 2015

Capítulo 5: Os Novos Velhos Tempos - Parte 2 -

Horizontina, dezenove de abril de 2048

Esse dia foi mais um daqueles raros dias atípicos na história dos moradores de Horizontina desde o começo de tudo. Depois de dez anos de abandono do governo estadual e federal, uma comitiva do Governo Provisório Gaúcho estava chegando. Essa comitiva estivera rodando o Estado em busca de sobreviventes e de comunidades para dar a sensação de unidade e de esperança entre o povo gaúcho.

O vice-governador do Estado, Arthur Biancchinni, estava fora da cidade de Porto Alegre quando tudo aconteceu. Nos primeiros dias de caos, a pouca comunicação com o Governo Federal tornou tudo pior. Quando tudo caia os Estados se tornaram responsáveis pelas funções que anteriormente cabiam aos órgãos federais. Porto Alegre fora atingida por um dispositivo nuclear e com o governador morto, o Estado estava entregue ao caos.

Biancchinni fora encontrado numa pequena cidade próxima a Porto Alegre por um regimento do exercito que estava estacionado próximo a Sapiranga. De Sapiranga, o exército, junto com funcionários públicos e outros populares seguiram a pé, descendo o Rio Grande do Sul, chegando até a cidade de Piratini.

Piratini em tempos antigos fora a capital dos gaúchos durante a Revolução Farroupilha. A escolha não poderia ter sido melhor nesses tempos, representava uma nova oportunidade, um recomeço. Arthur Biancchinni foi empossado em Piratini como Governador de todo o Rio Grande do Sul por tempo indeterminado.

Antes de chegar a Horizontina, o regimento saindo de Carazinho passou por outras comunidades que sobreviveram e resistiram nesses dez anos. Três de Maio recebeu as tropas um dia antes, reconhecendo Biancchinni líder legítimo do Estado e o Governo Provisório Gaúcho como unidade política sucessora do antigo Brasil e do Rio Grande do Sul.

Era logo após o meio dia, trombetas tocavam fora dos portões da cidade. Toda a população da cidade esperava a entrada do regimento. Bandeiras coloridas estavam espalhadas pelas ruas. O portão que cortava a cidade em direção da avenida principal foi aberta. Dois cavalarianos entraram portando cada um uma bandeira, a bandeira era familiar para qualquer um que já tinha visto alguma vez a bandeira do Estado do Rio Grande do Sul, mas esta somente tinha as cores tradicionais, verde, vermelho e amarelo, sem o brasão do Estado.

Enquanto a população batia palmas enquanto os cavalarianos entravam pelo portão, o prefeito e seus conselheiros esperavam no meio da rua a cerca de 200 metros do portão a delegação. Eram cerca de 25 pessoas montadas a cavalo, vestido uniformes militares e portando cada um um longo sabre e armas de fogo. Logo após esses militares, uma carroça guarnecida por mais quatro soldados entraram nos portões. Esses quatros vestiam igualmente uniforme militar, ligeiramente mais escuro e portavam armas de grosso calibre.

As pessoas atiravam flores e papel picado nos soldados, enquanto palmas e gritos eram ouvidos. No meio dos militares, uma única pessoa se diferenciava entre os uniformes e os quepes militares. Um senhor de cerca de 50 anos, usando trajes formais e usando um chapéu fedora. Uma militar que estava do lado do senhor, desceu de seu cavalo e ajudou o senhor a descer do seu cavalo.

Enquanto os soldados seguravam as rédeas de seus cavalos, o senhor aproximou-se em direção do prefeito. Humberto usava um traje formal que parecia que pouco fora usado durante toda a sua vida como prefeito. Usava por cima do terno preto uma faixa branca, seu bigode estilo morsa que era sua marca a muitos anos, havia sido aparado por sua esposa.

Os policiais de Horizontina estavam no alto de algumas construções, vigiando o local, juntamente com os vigilantes da muralha que obervavam tudo. Carlos estava com sua câmera fotográfica pronta para registrar o momento histórico. Um aperto de mãos e troca de sorrisos.

O primeiro a falar foi o prefeito:

- Embaixador Lopes eu presumo. –

- Meus cumprimentos pela calorosa boas vindas. É muito bom saber que existem povoados bem estabelecidos perto da fronteira. Até algum tempo atrás achávamos que toda essa região fronteiriça tivesse sido arrasada pelas imigrações. -

Tirando o seu chapéu, o senhor olhou pelas fachadas bem preservadas dos prédios localizados dentro da muralha. A população eufórica esperava algumas palavras que com certeza deveriam ser ditas mais tarde. Todos esperavam desde o começo dos problemas uma solução, um recomeço, uma esperança.

-Prefeito, me chame somente de Roberto. A palavra embaixador é muito inapropriada para mim. Embora esse seja meu cargo dentro das funções governativas, se usa, ou melhor, usava a palavras embaixador para com nações estrangeiras. Nós não somos invasores ou estrangeiros, somo todos gaúchos acima de qualquer divisão que o caos tenha criado.

As pessoas que vieram para ver a chegada daqueles militares de Piratini começavam a se dispersar e retornando nos seus afazeres cotidianos. Ao longe Paloma segurava um cesto vazio, onde anteriormente estava cheio de papéis picados. Segurando o cesto com uma mão, acenava ao longe para Fernando. Fernando observava sua amada. Seus longos cabelos ruivos estavam suavemente balançando conforme o vento, a única coisa que permanecia imóvel era um pequeno girassol que ela havia colocado em seu cabelo.

Enquanto o prefeito e o embaixador iam à frente conversando, os conselheiros e alguns militares acompanhavam o cortejo até a prefeitura onde inicialmente ocorreriam algumas conversas mais formais para que depois o grupo de visitantes conhecesse a cidade e os seus campos produtivos.

Na frente da prefeitura, o padre Juarez e JH esperava pela chegada da comitiva. Nos dias que antecederam a visita da delegação, a hospedaria não aceitara novos hóspedes. Tudo tinha que estar perfeito para a chegada dos visitantes. Uma exceção nos dias que o pessoal de Piratini estivesse por aqui, carne vermelha voltou ao cardápio e a imaginação de todos para degustar de um churrasco a moda antiga.

 João Henrique trabalhou duro nos últimos dias. Contou com a ajuda do seu velho amigo Juarez. Embora o padre tivesse seus fieis para aconselhar e a paróquia para cuidar, sempre se dispôs a ajudar a todos. Juarez vestia sua batina preta, acompanhando no pescoço um escapulário e uma cruz.


Enquanto alguns soldados se posicionavam fora da prefeitura, O prefeito e o embaixador, acompanhado por Fernando e uma soldada de Piratini subiam as escadas indo em direção a sala do prefeito. Lá dentro, o futuro da cidade iria ser decidido. 

(Capítulo 6: Operação Pindorama -Parte 1-)

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