segunda-feira, 6 de abril de 2015

Capítulo 2: A década dos Cavaleiros do Apocalipse -Parte Um-

Capítulo 2: A década dos Cavaleiros do Apocalipse


Horizontina, dez de janeiro de 2038.

Uma das teorias da conspiração que JH acreditou durante seus anos, finalmente se cumpriu. Ele estaria feliz e dizendo para o vizinho resmungão da casa ao lado ou aos seus amigos de bocha um “Eu avisei”, mas ele tem coisas mais importantes para se importar agora.
Toda a família acabou por descobrir o que João Henrique tinha feito naquele último mês que ele saiu de férias e sumiu. Num cômodo da casa que somente era usado como depósito ele construiu um pequeno bunker. Tirando o fato de ser pequeno, era totalmente funcional.

Não era um bunker tradicional daqueles que existiam para gente do governo ou para os ricos, era um cômodo de mais ou menos 14m² fortificado e adaptado com três espaços: um dormitório com quatro camas improvisadas, um banheiro e uma área multiuso com cozinha, livros, equipamentos básicos de sobrevivência e jogos de tabuleiro. Não seria um abrigo permanente, mas serviria para sobreviverem pelo primeiro mês, sem precisar sair para nada.
Enquanto toda a família pegavam algumas roupas outros itens de dentro de casa, João Henrique dizia ironicamente:

-Enquanto vocês brincavam de viver suas vidas normais, seu velho pai aqui construiu dutos para circular o ar, furava o chão em busca de água e estocava comida. Lembrem-se do dia que um viciado em teorias da conspiração salvou a vida de vocês.-

Ele terminava essa fala com sua habitual gargalhada irônica.

Pela janela do quarto de seus pais, Fernando pode visualizar o pânico generalizado nas ruas da pequena Horizontina. A maioria das pessoas não acreditavam que isso aconteceria e os que acreditavam, nunca achariam que Santa Rosa, uma cidade com menos de cem mil habitantes e com pouca relevância fosse alvo.

Logo depois de fechar a casa, todos entraram rapidamente no bunker. Quando JH fechou a grande porta de concreto, todo o exterior ficou silencioso. Estavam todos a sós e sem contato com o mundo exterior. O mundo estaria totalmente morto para ele durante o próximo mês.
Amélia estava ainda em choque, sua cabeça não havia processado ainda tudo o que ocorreu nesses últimos minutos. Beatriz estava sentada no chão, com as pernas cruzadas olhando para a parede branca a sua frente. Se antes estivera chorando, agora estava pensando em como seu futuro seria sem as pessoas que convivera durante toda a infância e juventude.

- Amélia, meu amor, queres deitar um pouco? -

JH embora quase nunca dissesse um “eu te amo” para sua esposa, as suas atitudes com ela expressavam esse sentimento muito claramente. Depois de levar Amélia para o quarto, JH se sentou no chão próximo de Beatriz e de Fernando, ele respirou profundamente e começou a pensar em como explicaria para os filhos, como o fim havia chegado.

-Sabem meus filhos, a história é bem curta, e diferente do nosso historiador que adora alongar as histórias com todo o tipo de fato de maior ou menor importância, irei ser sucinto.-

Seu pai e seu irmão perceberam como Beatriz soltou algumas risadas. Eram poucas, mas sinceras.

-Seu velho pai aqui conheceu os computadores mais ou menos com a idade de vocês. Eles eram brancos, muito pesados e muito velhos. Desde o começo do seu uso conheci pessoas na internet que acreditavam em acobertamentos do governo sobre casos de extraterrestres e em previsões apocalípticas de todo o tipo. Numa noite depois que coloquei vocês para dormirem fui olhar os meus sites favoritos do tema e apareceu um texto com o nome: “O Fim do Mundo será atômico”. -

-Isso já faz dez anos...-

Enquanto esperávamos pela continuação da história, papai olhava para o nada e se perdia em seu pensamento. O gerador lhe despertou do transe e foi verificar que ele funcionava em plena capacidade. Ele nos serviria muito bem nesse um mês.

-Quer saber filhos? Estou cansando e amanha continuo a história. Tentem descansar. Amo vocês.-

Horizontina, onze de janeiro de 2038.

Embora o dia anterior tenha sido péssimo, todos conseguiram dormir relativamente bem em seu novo lar. Ao levantarem, Fernando observou JH indo diretamente ver numa pequena tela embutida na parede que funcionava como um sistema de monitoramento verificar se teve algum movimento nas últimas horas.

Beatriz viu pela tela pequenos flocos caindo suavemente. Com muita alegria ela falou:

-É neve! Está nevando, em pleno verão! -

-Não é neve não irmã. Não é algo natural...-

João Henrique que segurava uma xícara com café deu um sorriso largo e explicou:

- Isso como seu irmão disse Beatriz, não é bem uma neve. Esse fenômeno vem da fuligem decorrente da explosão nuclear. Imagine filha, que tudo na região da explosão, foi vaporizado e queimado. Toda essa fuligem volta para o solo em varias formas, uma dessas formas é essa neve preta. Entendem?-

-A nossa sorte é que na hora da explosão, o vento soprava para o leste. O pior por hora não nos atingiu.-

-Como eu dizia na noite passada, um usuário contava uma fantástica história de um grupo internacional que tinha planos para levar o colapso da civilização, visto que a humanidade já havia conquistado uma independência de velhas ideias como a fé, a ignorância, o medo. Segundo o usuário, a humanidade para se curar de sua total soberba, independência e vaidade, precisava ser testado, ser levada ao limite entre a sobrevivência e o colapso.-

-Como a divisão do átomo nos levou a uma nova revolução no nosso planeta e nos levou para fora dele, pela divisão do átomo deveria ser nosso fim. É uma história muito longa, mas resumindo para vocês filhos, quando uma cidade fosse destruída para mostrar ao mundo que os boatos que existiam sobre o grupo eram reais. A semente do medo seria instalada em toda a humanidade.-

-E vocês sabem que Miami não foi escolhida aleatoriamente. Sabem por qual motivo Miami foi escolhida?-

Diante do silencio de Amélia, Fernando e Beatriz, JH continuou:

-Miami era a capital mundial das maiores indústrias aeroespaciais e da Agência Internacional de Controle Nuclear.-

-Com o medo instalado em toda a humanidade os cavaleiros do apocalipse poderiam fazer a colheita da humanidade. A maioria iria morrer nos primeiros anos, e quem sobreviveria estaria sujeito ao domínio dessa organização que segundo o usuário no fórum, já estariam infiltrados, nos governos, nos exércitos e nas lideranças espirituais.-

-Mas pai, eu fiquei com uma dúvida.-

-Diga filho.-

-Se os quatros cavaleiros, que são a morte, a peste, a guerra e a fome são uma analogia aos efeitos das bombas e das ações da humanidade, como essa organização controlaria todo o processo?-

Para a surpresa de todos, JH não sabia responder.
Essa história embora muito fantástica e inacreditável ainda para os olhos dos seus filhos e da sua esposa, JH percebia que se existisse um plano global de implantar o medo na humanidade, ele foi um sucesso. Sabia que nesse momento, ele deveria se tornar uma espécie de líder e mentor da sua família. Eles não esperavam que suas vidas mudassem radicalmente em questão de dias.
Enquanto todos ficavam dentro do bunker, JH tentava pensar no momento, e nesse momento ele estava faminto.

-Hoje é meu dia de preparar a comida. Quem quer uma deliciosa refeição desidratada e de acompanhamento, algumas balinhas de sobremesa? -

A risada de JH continuava a mesma, nos momentos bons ou nos ruins.

( -> Capítulo 2: A década dos Cavaleiros do Apocalipse -Parte Dois)

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