sábado, 8 de agosto de 2015

Capítulo 6: Operação Pindorama - Parte 2

Horizontina, vinte de abril de 2048

O dia anterior foi realmente exaustivo para todos envolvidos na recepção da comitiva. Ontem fora um dia realmente agitado. Enquanto o prefeito da cidade e o embaixador conversavam entre sim, construindo novos alicerces para a amizade e cooperação, os militares que vieram com a comitiva, montaram uma grande tenda que cobriu parte da rua que separava a prefeitura da praça. 

Dentro dessa tenda, a carroça teve parte de sua carga desmontada. Aos poucos o local virou um posto provisório, onde os militares de Piratini estavam esperando ordens do embaixador ou da própria capital, através de uma estação de radio ligado exclusivamente para a sede.

A reunião entre os representantes durou cerca de 5 horas. Era depois das dezessete horas que Fernando e a soldada Maria terminassem de redigir uma ata da reunião que seria impressa, assinada pelo prefeito e pelo embaixador e uma cópia que seria colocada no mural de avisos e decretos que estava localizado no hall de entrada da prefeitura.

Antes da assinatura do prefeito, o restante dos membros dos conselheiros foram chamados para lerem as propostas elaboradas. Sem grandes modificações, o documento foi aprovado e assinado.

Entre os pontos principais estabelecidos, estavam:

- O município de Horizontina, aceita a adesão como parte efetiva dentro das terras do Governo Provisório Gaúcho, tendo seus direitos de autonomia local garantidas sem grandes restrições;
- Recuperação do aeroporto municipal para recebimento de monocópteros, aviões de pequeno porte e zepelins militares;
- Restabelecimento das linhas de transmissão de energia com Três de Maio e Doutor Maurício Cardoso, sendo que Horizontina e Três de Maio deveria ampliar sua capacidade de geração de energia;
- O município de Três de Maio e juntamente com Horizontina deveria achar um local adequado e construírem um acampamento avançado para cerca de 50 soldados que viriam diretamente de Piratini. O local deveria ser a meio caminho dos dois municípios.

Depois do aceite do prefeito e da assinatura do documento, todos os representantes da administração da cidade e membros do conselho se reuniram com os soldados na tenda, onde alguns equipamentos eram tirando de caixas. Eram drones de reconhecimento, usados para reconhecimento de terreno e coleta de fotos de alta qualidade. Enquanto os três drones voavam calmamente para fora da tenda, um dos militares que o ativou disse:

- Os drones irão fazer fotografias aéreas de todo o perímetro urbano e das áreas adjacentes, como relevo, rede hidrográfica e vegetação. Vamos atualizar as imagens que temos de todas as áreas possíveis do Estado. O último levantamento foi em setembro de 2037, e como sabemos tudo mudou desde lá.

Enquanto alguns acompanhavam as imagens que os drones capturavam e era exibida nas telas dos computadores. Muitas áreas mais periféricas da cidade haviam sido engolidas pela vegetação. Um pequeno grupo de soldados se retirou da tenda juntamente com Carlos que iria mostrar a sala de radio, e onde poderia ser instalada uma antena mais potente para manter contato diretamente e constante com Piratini.

Enquanto a noite descia, foi celebrada uma festa de boas vindas aos militares que foi realizada no restaurante do hotel. Depois que todos se retiraram para mais uma noite de sono, a cidade voltou ao normal, mas por pouco tempo. O sol nem havia nascido quando os soldados desmontaram a tenda, tiraram seus cavalos dos estábulos e partiram rumo a procura de cidades e povoados situados próximos ao rio Uruguai.

Naquela segunda feira tanto Fernando quanto Paloma ficaram em casa, curtindo um dia de folga antes de começarem a ajudar nas fazendas ao redor da cidade. Havia grande expectativa sobre uma possível colheita recorde de trigo. Paloma havia colhido algumas flores que nasceram próximos aos portões de Horizontina e colocara em uma vasilha com água para decorar a mesa de jantas.

Mesmo com hábitos tão diferentes, Paloma e Fernando eram um casal que se completava de modos diferentes. Fernando muitas vezes se perdia em seus pensamentos desde a morte de sua mãe, às vezes chegava a sumir um ou dois dias até retornar para casa como se não tivesse desaparecido. Já havia tentando seguir seu marido, não desconfiava da fidelidade dele, mas queria poder ajuda-lo em seus momentos.

Fernando abriu os olhos e abriu a cortina da janela. Da visão que a janela lhe proporcionava, poucas pessoas estavam andando pelas ruas. Avistou longe seu pai caminhando em direção a um dos portões de saída. Enquanto contemplava o silencio, um canto de algum pássaro penetrou calmamente em sua mente, alguns canários viviam na arvores que cercavam a praça.

Caminhando em direção à cozinha, o cheiro de café coado era um odor que não sentia fazia anos. Ficara cerca de quatro anos sem sentir o agradável gosto de café, desde que não encontrara mais o produto pelas casas abandonadas ou trocadas por outra mercadoria, para sua sorte conseguira de presente do Embaixador  um pouco de café.

Disse o Embaixador, enquanto distribuía café para os conselheiros, que Piratini conseguia café com as repúblicas localizadas na região do antigo Estado de São Paulo, e que como o dinheiro em papel perdera grande parte do seu valor, Piratini trocava gado e produtos de couro por café e outros produtos tropicais.

Enquanto tomava o primeiro gole de café, uma sensação de alívio surgiu em sua mente. Como quase todos adultos dos velhos tempos, era viciado em cafeína. Sentiu o gosto do café em sua boca enquanto cheirava vagarosamente sobre a xícara. Abriu seus olhos e percebeu que sua esposa estava lá, se divertindo com as expressões faciais de Fernando.

Fernando suspirou profundamente.

- Você é feliz Paloma? -

- Díos mio, Fernando. Claro que sou feliz. Que pergunta boba foi essa? -

- Verdadeiramente? Eu me sinto tão ausente com meu pai, minha irmã, mas especialmente com você. Tenho falhado como amigo e companheiro. -

Os olhos de Fernando estavam cheios d’agua.

- Eu... não sei mais o que fazer... Sinto que estou em colapso... -
Paloma pega as mãos de Fernando e as beija.

- Não diga isso querido. Você tem feito coisas maravilhosas por todos nós. Você foi o meu primeiro amigo quando cheguei aqui. Lembra como cheguei aqui? Perdida, confusa, com medo. –

- Você tem sido maravilhosa minha amada. Espero poder ser mais presente com você. –

Paloma deu um sorriso, enquanto ajeitava o cabelo de Fernando que tapava um pouco seus olhos.
- Respire um ar puro amor. –

Enquanto levantava da cadeira, Paloma deu um tapa na bunda de Fernando e disse:
- Se parece a una chica con todo este sentimento. – Dando uma risadinha e uma piscadela para Fernando.

Fernando riu e disse:

-Você é a rocha da relação amor. –

Em algum lugar do noroeste do Rio Grande do Sul, vinte de abril de 2048

Entre as ruínas de uma das inúmeras comunidades rurais abandonadas pelo Rio Grande do Sul, três homens recebiam uma mensagem em código.

Entre escombros de meia dúzia de casas e um colégio rural, um trailer de formato arredondado chamava a atenção. Próximo ao trailer, três barracas individuais estavam montadas, formando um círculo ao redor do trailer.

Na fogueira um pouco afastada, um coelho estava sendo assado, dois dos três homens estavam próximo da fogueira, esperando a comida ficar pronta, enquanto o outro traduzia a mensagem vinda em códigos. Ele não parecia surpreso com a mensagem que vinha. Era um pouco mais de meia dúzia de palavras que davam sua próxima missão.

Seus olhos ficaram pesados, poderia ser o sono ou o arrependimento de ter ingressado na OIPNOM e abandonando sua família, ou uma mistura de ambos. Sua consciência estava tentando decidir se resolveria ajudar como havia prometido uma vez ou iria contribuir para construir a Nova Ordem?
Sua mente estava perdida, uma sucessão de possibilidades agitavam sua mente. Voltou a si com o chamado de um de seus companheiros:

- E então T, o que diz a mensagem?

Exitosamente, T respondeu:

- Companheiros, Pindorama acordou. Devemos nos aproximar e estudar Três de Maio e Horizontina.
Seus dois companheiros de missão vibraram com a notícia. Finalmente poderia fazer algo e contribuir com a causa na qual eles dedicaram anos de vida em uma extensa rede de um submundo de informantes e sabotadores. A maioria de todos os soldados menores da OIPNOM foram recrutados logo após os ataques iniciais onde escapar do pânico, da fome e da possibilidade de morrer foram moedas de troca para obter informações, recursos e controle se tornando agentes da Nova Ordem.

M pegou uma submetralhadora e disparou em direção aos céus.

T simplesmente ignorou o ato e atingiu M com um olhar de desaprovação.

B olhava animadamente para M. B disse:

- Imagine quando vamos finalmente fazer grandes sabotagens e matar pessoas? 

Aquilo era o ápice da dúvida que T tinha sobre o futuro de sua vida. Sem pestanejar pegou entrou no trailer e pegou seu revolver. Sem M e B perceberem, T disparou uma vez em cada um. Mira perfeita. Dois tiros bem no meio da testa.

T olhou para os dois corpos no chão e agora se perguntavam qual seriam os nomes de seus dois antigos companheiros. Só sabiam as iniciais de seus nomes.

Ele se apressou para preparar o acampamento para mudar de lugar, os tiros poderiam ter atraído olhares indesejados nesse momento. Deveria primeiramente enterrar os corpos e partir desse lugar.


Dívidas e promessas deveriam ser pagas.

(Capítulo 7: Lembranças -Parte 1-)

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